Com o avanço do julgamento sobre a ‘tentativa de golpe de Estado’, o Exército já discute como acomodar militares da ativa e da reserva que eventualmente forem condenados – incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Embora não haja decisão sobre sentenças ou locais de detenção, há um entendimento dentro da caserna de que um planejamento prévio é necessário para evitar improvisos caso a condenação se concretize. A informação é do Estadão.
Oficiais militares manifestam preocupação com o tempo de duração do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Embora alguns ministros defendam que o caso seja concluído até dezembro de 2025, há incertezas devido ao alto número de denunciados – 34 no total. O risco de que o julgamento se estenda até 2026, ano eleitoral, preocupa a cúpula militar, que vê nesse cenário um potencial agravamento da tensão política.
Se condenado, Bolsonaro poderia cumprir pena em uma unidade da Polícia Federal, como ocorreu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que ficou 580 dias detido em Curitiba. Michel Temer (MDB) também teve uma cela especial na Superintendência da PF no Rio de Janeiro, onde permaneceu preso por quatro dias.
No entanto, o cenário mais provável, segundo fontes militares, seria Bolsonaro cumprir pena em uma unidade do Exército. Isso porque o Código Penal Militar prevê esse direito a determinadas autoridades, incluindo ex-comandantes das Forças Armadas – status que os ex-presidentes possuem por exercerem o cargo de chefe do Executivo.
Entre as opções consideradas, está a reserva de um espaço no Comando Militar do Planalto, em Brasília. Outro modelo possível seria o adotado para o general Braga Netto, também denunciado, que está detido em um alojamento na 1ª Divisão do Exército, na Vila Militar, no Rio de Janeiro, com estrutura diferenciada, incluindo armário, frigobar, televisão, ar-condicionado e banheiro exclusivo.
Uma das principais preocupações das Forças Armadas é o impacto que a prisão de Bolsonaro poderia ter entre seus apoiadores. Há receio de que militantes acampem na porta da unidade militar onde o ex-presidente estiver detido, o que poderia pressionar o Exército a lidar com manifestações de difícil controle.
O temor não é infundado. Após a derrota de Bolsonaro para Lula, acampamentos foram montados em frente a diversos quartéis pelo país, em um movimento interpretado como tentativa de pressionar as Forças Armadas a intervir. Situação semelhante ocorreu durante a prisão de Lula, quando seus apoiadores montaram um acampamento em frente à sede da PF em Curitiba.
No caso de Bolsonaro, no entanto, o Exército avalia que um acampamento prolongado diante de um quartel poderia representar um risco ainda maior, comprometendo a rotina militar e forçando uma ação para dispersar manifestantes.
Apesar das discussões, não há nenhum preparativo concreto para uma possível prisão de Bolsonaro. No entanto, a mera possibilidade de que isso ocorra já mobiliza preocupações dentro das Forças Armadas, que tentam antecipar cenários e minimizar os impactos de uma eventual condenação do ex-presidente.
(Hora Brasília)
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